Nós somos feministas marxistas. Para nós, a luta contra todas as opressões precisa estar ligada à luta contra o capitalismo e vice-versa. A exploração e as diversas formas de opressão estão fortemente ligadas entre si. Por isso, não é possível acabar com qualquer forma de opressão nesse sistema que é fundamentado na exploração humana.
No sistema capitalista, não é o quanto você
trabalha que determina o quanto você ganha. Isso é fundamentalmente
verdade nos sistemas econômicos de muitas das sociedades nativas da
América e da África, por exemplo. No nosso sistema econômico, pelo
contrário, existe uma minoria que não recebe pelo próprio trabalho, mas
sim pelo trabalho alheio.
É um absurdo lógico considerar que o trabalho de
pessoas como Eike Batista, por exemplo, valha dezenas de milhares vezes
mais que o trabalho de uma faxineira terceirizada. Entretanto, Eike
Batista recebe dezenas de milhares vezes mais que ela porque não recebe
pelo próprio trabalho e sim pelo trabalho alheio.
As opressões não surgiram no sistema capitalista.
Entretanto, os patrões, que têm o interesse de garantir o maior lucro
possível, se aproveitam da existência de setores oprimidos para pagar
menos. Funciona assim: se o patrão precisa de alguém pra fazer faxina,
pra quê ele vai pagar um bom salário e oferecer boas condições de
trabalho se tem muitas mulheres na periferia (a maioria negras) que
aceitam um salário baixo? Pagando um salário menor e oferecendo
condições piores, ele lucra mais e sua empresa tem maior competitividade
no mercado.
Existem vários métodos opressores que os patrões
utilizam para lucrar mais. Por exemplo, demitindo trabalhadoras que
provavelmente vão engravidar e não garantindo creches para as mães.
Outro exemplo é o assédio moral, que é muito comum acontecer com todas
as pessoas oprimidas (inclusive LGBTs, por exemplo), impondo pra elas um
ritmo de trabalho mais acelerado.
No caso das pessoas trans, em especial das travestis,
essa realidade se torna muito dramática. Essas são tão repudiadas que
dificilmente encontram emprego no mercado formal, e, quando encontram, é
nos trabalhos precarizados e são, muitas vezes, vítimas constantes de
assédios. A maioria das pessoas não costuma ver travestis no seu dia a dia, mas tem pelo menos quatro lugares onde é possível encontrar
muitas travestis: nas empresas de telemarketing (onde a vasta maioria é
negra, feminina e LGBT), nos sites pornográficos, nas zonas de
prostituição e nas prisões.
Além de tudo isso, no capitalismo, poder econômico
também significa poder político. Os políticos que vencem as eleições são
aqueles que recebem mais dinheiro para sua campanha política. Quem dá
esse dinheiro são as empresas. Não é à toa que os políticos são quase
todos homens, heterossexuais, brancos, cisgêneros, conservadores,
LGBTfóbicos, machistas e racistas, afinal, eles refletem as
características sociais e os interesses daqueles que bancaram
financeiramente suas campanhas. Não é de se estranhar que exista uma
grande bancada que defende os interesses do agronegócio, dos
fundamentalistas religiosos e de diversos outros setores empresariais,
sendo que não existe nenhuma bancada de mulheres e de pessoas negras,
que são a vasta maioria da população?
Por tudo isso, na nossa opinião, só é possível acabar
com as opressões se o sistema capitalista tiver um fim e der lugar para
um sistema em que as pessoas mais exploradas e oprimidas tenham voz e
poder real de decisão. Só é possível chegar a uma sociedade assim se
houver uma revolução realizada pelas trabalhadoras e trabalhadores e que
tenha a participação ativa dos diversos setores oprimidos da sociedade,
o que só pode acontecer se toda forma de opressão for combatida. É isso
que nós consideramos uma sociedade socialista e é por isso que lutamos.
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