domingo, 18 de outubro de 2015

Por que somos feministas marxistas?

[Texto publicado originalmente em https://feminismosemdemagogia.wordpress.com/2015/10/16/por-que-somos-feministas-marxistas/]


Nós somos feministas marxistas. Para nós, a luta contra todas as opressões precisa estar ligada à luta contra o capitalismo e vice-versa. A exploração e as diversas formas de opressão estão fortemente ligadas entre si. Por isso, não é possível acabar com qualquer forma de opressão nesse sistema que é fundamentado na exploração humana.

No sistema capitalista, não é o quanto você trabalha que determina o quanto você ganha. Isso é fundamentalmente verdade nos sistemas econômicos de muitas das sociedades nativas da América e da África, por exemplo. No nosso sistema econômico, pelo contrário, existe uma minoria que não recebe pelo próprio trabalho, mas sim pelo trabalho alheio.
É um absurdo lógico considerar que o trabalho de pessoas como Eike Batista, por exemplo, valha dezenas de milhares vezes mais que o trabalho de uma faxineira terceirizada. Entretanto, Eike Batista recebe dezenas de milhares vezes mais que ela porque não recebe pelo próprio trabalho e sim pelo trabalho alheio.

As opressões não surgiram no sistema capitalista. Entretanto, os patrões, que têm o interesse de garantir o maior lucro possível, se aproveitam da existência de setores oprimidos para pagar menos. Funciona assim: se o patrão precisa de alguém pra fazer faxina, pra quê ele vai pagar um bom salário e oferecer boas condições de trabalho se tem muitas mulheres na periferia (a maioria negras) que aceitam um salário baixo? Pagando um salário menor e oferecendo condições piores, ele lucra mais e sua empresa tem maior competitividade no mercado.

Existem vários métodos opressores que os patrões utilizam para lucrar mais. Por exemplo, demitindo trabalhadoras que provavelmente vão engravidar e não garantindo creches para as mães. Outro exemplo é o assédio moral, que é muito comum acontecer com todas as pessoas oprimidas (inclusive LGBTs, por exemplo), impondo pra elas um ritmo de trabalho mais acelerado.

No caso das pessoas trans, em especial das travestis, essa realidade se torna muito dramática. Essas são tão repudiadas que dificilmente encontram emprego no mercado formal, e, quando encontram, é nos trabalhos precarizados e são, muitas vezes, vítimas constantes de assédios. A maioria das pessoas não costuma ver travestis no seu dia a dia, mas tem pelo menos quatro lugares onde é possível encontrar muitas travestis: nas empresas de telemarketing (onde a vasta maioria é negra, feminina e LGBT), nos sites pornográficos, nas zonas de prostituição e nas prisões.

Além de tudo isso, no capitalismo, poder econômico também significa poder político. Os políticos que vencem as eleições são aqueles que recebem mais dinheiro para sua campanha política. Quem dá esse dinheiro são as empresas. Não é à toa que os políticos são quase todos homens, heterossexuais, brancos, cisgêneros, conservadores, LGBTfóbicos, machistas e racistas, afinal, eles refletem as características sociais e os interesses daqueles que bancaram financeiramente suas campanhas. Não é de se estranhar que exista uma grande bancada que defende os interesses do agronegócio, dos fundamentalistas religiosos e de diversos outros setores empresariais, sendo que não existe nenhuma bancada de mulheres e de pessoas negras, que são a vasta maioria da população?

Por tudo isso, na nossa opinião, só é possível acabar com as opressões se o sistema capitalista tiver um fim e der lugar para um sistema em que as pessoas mais exploradas e oprimidas tenham voz e poder real de decisão. Só é possível chegar a uma sociedade assim se houver uma revolução realizada pelas trabalhadoras e trabalhadores e que tenha a participação ativa dos diversos setores oprimidos da sociedade, o que só pode acontecer se toda forma de opressão for combatida. É isso que nós consideramos uma sociedade socialista e é por isso que lutamos.

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