quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Templo do Capital

Foto da mansão de Edir Macedo
Por que o templo de R$680 milhões foi construído? Simples: segundo o IBGE, o número de fiéis da IURD caiu de 2,102 milhões para 1,873 milhão em 2012. Mesmo que a chamada "Igreja Universal do Reino de Deus" (IURD) esteja perdendo seus clientes, quer dizer, seus fiéis, para outras igrejas evangélicas, Edir Macedo está muito satisfeito com esta obra, pois ano passado entrou para a lista dos bilionários da revista Forbes. Ele tem orgulho de dizer que é o pastor mais rico do mundo. Isso não tem nada a ver com fé. Este é o mundo dos negócios.

Este grande negócio se baseia em utilizar a fé das pessoas de maneira oportunista para convencê-las a venderem suas casas, seus carros e doarem seus salários pela construção do templo em troca de uma "bênção". E Edir Macedo, por acaso vendeu seus carros? Seus aviões particulares? Suas mansões banhadas em ouro? Se tivesse feito, ele, sozinho, já teria arcado com um Templo de Salomão e meio.

Aliás, convenhamos, Salomão não tem nada a ver com essa construção. Quem saiu faturando com ela foi a empreiteira paulista Sobrosa.

A Igreja Universal teve um rápido crescimento. Não é nenhum segredo que Edir Macedo ensina a seus pastores técnicas para arrancar dinheiro de seus fiéis. Uma das armas que ele utiliza é o racismo, dizendo que a Umbanda, a Quimbanda e o Candomblé são "seitas demoníacas" responsáveis pelo subdesenvolvimento do país e pelo uso de drogas. Tudo isso, evidentemente, para fazer com que o povo tenha medo da "concorrência". Outra arma é o machismo: ele teve a pachorra de recomendar a seus fiéis homens não se casarem com mulheres mais velhas "para não se deixarem influenciar por elas" e também que não se casem com mulheres de outras raças "para evitar o racismo". Ainda mais, o texto todo é escrito como se apenas os homens se casassem com as mulheres, como se as mulheres não se casassem com os homens.

Sua igreja também é responsável por enviar missionários homofóbicos pelo mundo (esta empresa está em mais países do mundo que o McDonalds). Vários povos nativos da África, por exemplo, tinham (e ainda têm) costumes que envolvem homossexualidade e transgeneridade. A grande "missão" declarada de Macedo é convencê-los de que isso é tudo "coisa do demônio". Não é diferente no Brasil, onde 1 LGBT é vítima fatal de crimes de ódio todos os dias e onde as travestis têm expectativa de cerca de 35 anos e Edir Macedo milita contra nosso direito à igualdade. A igualdade não interessa a um burguês bilionário porque ele lucra com a desigualdade.

Recentemente, a Universal lançou um texto ainda mais bizarro. O título já diz tudo: "O que vestir para ir ao Templo de Salomão? - Confira dicas do que usar e não usar neste dia especial". Esse é um texto parecido com um artigo numa revista de moda, voltado especificamente às mulheres, apelando para o estereótipo feminino. Isso já demarca o caráter do próprio templo: um lugar de gente "elegante", um edifício turístico para fazer propaganda de sua igreja, onde as pessoas que têm algum dinheiro possam visitar e gastar seus cartões de crédito (seja na visita, seja depois na forma de doação para o Edir).

Esse templo está longe de ser um lugar para as pessoas mais pobres, exploradas e oprimidas do país. Será que as travestis vão sequer conseguir entrar?