[Texto originalmente publicado em http://blogconvergencia.org/?p=6518]
Nossa muito sofrida República Soviética passou por tanta coisa durante os últimos dois anos que, no espaço de um breve jornal de revisão, é possível apenas apontar os marcos mais importantes deste período. A história política das relações exteriores da Rússia Soviética nesses dois anos é uma trágica história de luta sem fim, inspirada por inúmeros inimigos que literalmente não deram nenhum descanso ao jovem regime dos trabalhadores e camponeses. […]
A revolução de novembro, o primeiro ato da revolução social mundial, colocou de uma vez o Governo Russo Soviético à frente do movimento revolucionário mundial como o mensageiro e a inspiração da revolução proletária.
[CHICHERIN,
p. 3]
É
assim que Georgi Chicherin começa o “breve” jornal (um pequeno
livro de bolso). Quando ele sucedeu Leon Trotsky no posto de
Comissário do Povo para as Relações Exteriores (uma espécie de
Ministro do Exterior), não havia, na teoria marxista, qualquer
elaboração sobre relações exteriores. Esta foi, portanto, a
primeira publicação marxista dedicada ao assunto.
Chicherin
mudou muito. Poucas pessoas acreditariam que ele havia sido um
aristocrata religioso e moralista retornaria à Rússia em 1918 como
um verdadeiro bolchevique. A complexa amizade que ele teve com
Mikhail Kuzmin, o autor do primeiro romance russo sobre
homossexualidade, mostra uma evolução do pensamento de Chicherin ao
longo dos anos. Infelizmente, pouca atenção é dada pelos
historiadores à sua homossexualidade (ou talvez bissexualidade). Os
artigos e livros que citam isso se restringem a falar sobre Chicherin
em um ou dois parágrafos no meio de um texto que tem outro foco. É
como se sua sexualidade fosse irrelevante para sua vida política e
vice-versa.
Mas
não há dois “Georgis Chicherins”, isso é óbvio. Houve apenas
um personagem histórico que se transformou ao longo do tempo,
transformação esta que atinge tanto suas visões sociais e
políticas quanto como ele encarava a sua sexualidade.
De religioso e moralista a materialista
Georgi
Chicherin estudou história e linguagem na universidade de São
Petesburgo a partir de 1886, onde conheceu Mikhail Kuzmin.
Tornaram-se amigos íntimos. Chicherin foi uma forte influência na
vida do amigo, levando-o a conhecer filosofia e aprender italiano e
alemão [MALMSTAD, p. 16-8]. Após retornar à Rússia em 1897,
Chicherin trabalhou no departamento de arquivos do Ministério das
Relações Exteriores até 1903 [MEYENDORFF, p. 175].
Chicherin
e Kuzmin “mencionam suas inclinações sexuais em suas cartas”
[MALMSTAD, p. 19]. Naquele momento, Chicherin convenceu Kuzmin a
confiar na “Providência Divina”, da necessidade de ter
“sentimentos corretos” e da abstinência sexual, apresentando a
ele o jesuíta Canon Mori [p. 33-6]. A falha de Kuzmin em encontrar
uma cura o levou várias vezes a tentar cometer suicídio [cf. p.
47]. Com o tempo, Canon Mori percebeu que era incapaz de resolver as
crises de seu devoto e exortou-o a buscar ajuda com um médico
especializado em distúrbios nervosos [p. 41-2].
Toda
pessoa LGBT que teve uma educação conservadora ou moralista carrega
uma antítese dentro de si. Por um lado, sua consciência alienada
que compreende que ser LGBT é pecado, doença ou anormalidade. Por
outro, sua própria existência concreta, que expressa as
características que são consideradas de LGBTs.
No
caso de Kuzmin, essa antítese teve outros desdobramentos. A busca
pela religiosidade e pela “cura” o levaria à seita dos velhos
crentes, muito influente em sua região. Essa seita, que defendia os
“velhos costumes” e rejeitava o presente, existia desde 1666 como
uma reação à Reforma da Igreja Ortodoxa Russa. Por outro lado,
como a principal inspiração de Kuzmin eram suas fortes paixões por
outros homens, ele passou a entender que seu trabalho criativo era um
pecado [cf. p. 66]. Essa antítese fica explícita em seu relato de
1901 [p. 63].
Já
Chicherin foi para a direção oposta. Em sua carta de agosto de
1901, afirmo que, apesar de compreender como os velhos crentes
atraiam a Khuzmin, este estaria
enganando a si mesmo em pensar que ele poderia ser algo além de um
“cidadão naturalizado”. Chicherin comparou-o a dois hegelianos
russos que “viam o niilismo, o revolucionismo e o materialismo como
sintomas da doença da sociedade europeia ocidental” [p. 52].
Já
em 1904, Chicherin escreveu uma carta que mostrava que sua concepção
deu um passo adiante. Chicherin percebia que a busca de Khuzmin por
uma “nova arte” era uma rejeição dos valores de sua época.
Isso fazia parte do contexto social em que emergia na Rússia o
movimento social democrático, que buscava o fim da ditadura czarista
e que também ansiava, segundo ele, por uma “reavaliação dos
valores” [p. 51].
Os
registros dos anos seguintes mostram que Chicherin abandonou a visão
moralista sobre a homossexualidade. Foi em 1906, quando estava em
Berlim, que Chicherin fez uma crítica à obra “Asas”, que
retratava um jovem homossexual que “saiu do armário”, como se
tivesse ganhado asas. A crítica era sobre o excesso de disquisição
“sempre sobre o mesmo assunto” e foi aceita pelo autor, que, em
consequência, fez várias mudanças na obra [p. 96]. No mesmo ano,
este publicou também as “Canções Alexandrinas”, que foram
baseadas na coleção de poesias lésbicas e eróticas “Les
Chansons de Bilitis” e retratava romances entre homens. Chicherin
exaltou-as por sua grandiosa maestria e por retratar “o mais puro
Kuzmin” [cf. p. 100].
De aristocrata a menchevique e, mais tarde, a bolchevique
Boris
Chicherin, tio de Georgi, faleceu em 1904 e suas propriedades foram
herdadas pelo sobrinho, que tornou-se muito rico. Entretanto, Georgi
Chicherin envolveu-se com o Partido Socialista Revolucionário (que
era muito influente entre os camponeses) e, por repúdio à riqueza e
à propriedade privada, doou o que tinha em nome da Revolução. No
mesmo ano, sua prisão iminente o obrigou a fugir para Berlim
[ANDREYED, p. 76]. Em 1905, Chicherin tornou-se menchevique e inimigo
de Lenin, assim permanecendo até 1914 [DEBO, p. 651].
No
começo do conflito, Chicherin acreditava que a principal necessidade
eram as revoluções democráticas nos países monarquistas e na
Rússia czarista. Baseando-se na teoria marxista que explica que, em
tempos de guerra, os socialistas deveriam apoiar o Estado cuja
vitória mais ajudasse na causa da revolução socialista, defendia o
apoio à Grã-Bretanha e à França, que eram, segundo ele, os países
mais progressistas. Entretanto, os socialistas não deveriam apoiar o
regime czarista, mas, pelo contrário, atuar para sua derrubada [p.
653].
Os
artigos de do final de 1915 e começo de 1916 mostram uma mudança de
posição. Conforme suas próprias palavras: “No curso da guerra
defensiva, o capital inglês aproveitou-se dos sindicatos de
trabalhadores para manter o poder em suas próprias mãos, enquanto
mantinha-o longe das classes trabalhadoras. A política inglesa, com
clareza ofuscante, revelou a ele [Chicherin] o papel da democracia, a
forma mais refinada de dominação do capital” [p. 653]. Segundo
ele, a guerra tinha origem imperialista e era mantida por
capitalistas e monarquistas feudais para os seus próprios interesses
de classe. A única forma de evitar esta guerra e as guerras futuras
era a destruição do capitalismo e da monarquia feudal pelas classes
dominadas dirigidas pelo proletariado. Entretanto, os imperialistas
se apropriaram das organizações da classe trabalhadora e dos
partidos social-democratas, que se tornaram “burocracias
partidárias”. Com esta posição política, o velho menchevique já
era um bolchevique em espírito [p. 653-4]. Do outro lado da Europa,
num memorando de março de 1916, Lenin comentou que seu antigo
adversário estava realizando um “grande serviço” a favor da
causa internacionalista [p. 655].
A
atuação política de Chicherin que obteve maior sucesso foi entre
centenas de imigrantes russos, na maioria foragidos da ditadura
czarista e da conscrição, contando com o apoio da militante
suffragette Mary Jane Bridges-Adams
em algumas ocasiões. Houve um acordo em 1916 entre os governos russo
e britânico para que esses imigrantes fossem enviados de volta à
Rússia ou que fossem conscritos ao exército britânico. A partir de
um protesto em 13 de março de 1916, foi criado o Comitê dos
Delegados dos Grupos Socialistas Russos em Londres. A partir da
denúncia do czarismo e do governo britânico, campanha alcançou um
público amplo não só na comunidade russa, mas também na população
britânica. Como resultado, o governo suspendeu a decisão por seis
meses [p. 656].
Por
causa da crescente influência dos sovietes e de Chicherin, o governo
britânico decidiu prendê-lo. Preso, teve contato limitado com
conhecidos e as visitas de Bridges-Adams foram proibidas [p. 660].
Leon
Trotsky, que era o Comissário do Povo para as Relações Exteriores,
no dia 26 de novembro, enviou uma mensagem ao embaixador britânico
George Buchanan, exigindo a libertação dos prisioneiros
bolcheviques Chicherin e Petrov, afirmando que haviam ingleses
engajados em atividades contrarrevolucionárias na Rússia e avisando
que “a democracia revolucionária não pode aceitar que heróis
valorosos definhem em campos de concentração na Inglaterra enquanto
cidadãos ingleses não sofrem qualquer restrição no território da
República Russa” [p. 660]. Diante da negativa do governo inglês,
Trotsky emitiu uma ordem proibindo todos os ingleses que estavam na
Rússia de saírem do país. Seu primeiro deputado, Ivan Zalkind,
disse certa vez a um inglês que desejava um visto de saída: “Para
lhe fornecer um visto nós precisamos consultar o camarada Chicherin
– sem Chicherin, sem visto!” [p. 660-1]
Essa pressão política obteve
sucesso. O acordo foi firmado em 10 de dezembro, mas foi apenas em 2
de janeiro de 1918 que Georgi foi notificado das negociações feitas
por Leon Trotsky. No dia seguinte, após uma pequena festa de
despedida feita por seus amigos, Chicherin embarcou no trem. Depois
de 13 anos de exílio, finalmente retornaria pra casa.
De volta à Rússia Soviética
No começo do século XX, a
criminalização da homossexualidade era comum entre quase todos os
Estados Burgueses. O movimento homossexual ainda incipiente
concentrava-se no Instituto Científico-Humanitário, na Alemanha,
que reivindicava a revogação do parágrafo 175 que criminalizava a
“sodomia”. Naquela época, a consciência sobre a necessidade de
se combater o preconceito e a violência contra LGBTs era quase
inexistente.
A Revolução de Outubro
colocou a Rússia Soviética à frente de todos os principais países
imperialistas com respeito aos direitos das mulheres e LGBTs. Logo
nos primeiro meses, todo o Código Penal russo, com uma visão
moralista herdada do czarismo e do catolicismo ortodoxo, foi
descartado. O novo governo soviético pôs-se imediatamente a
elaborar um novo Código Penal, promulgado em 1922, baseado em
concepções mais modernas de criminalidade. No novo código penal, a
criminalização da “sodomia” consensual entre adultos foi
intencionalmente deixada de lado. A política bolchevique era a
absoluta não-interferência do Estado Soviético nas questões
sexuais. Tudo isso durou até 1933-34, quando a “sodomia”
consensual foi novamente criminalizada pelo stalinismo como parte da
política de perseguição aos homossexuais que já havia se iniciado
sorrateiramente na segunda metade da década de 1920 [cf. HEALEY,
1993].
Lenin tinha muito respeito
pelo novo Comissário para as Relações Exteriores. São inúmeras
as cartas entre eles. Em 1919, ocorreu o Primeiro Congresso da
Terceira Internacional Comunista, no qual Chicherin foi um dos cinco
delegados russos. Ou seja, o fato de que Chicherin era homossexual
não parece ter afetado essa relação de confiança.
No tempo em que permaneceu
como Comissário, Chicherin manteve uma política contra o
imperialismo e da opressão nacional. Defendia a “autodeterminação
dos trabalhadores de toda nacionalidade”, abolição da “diplomacia
secreta, rompendo de uma vez com as tradições imperialistas através
da publicação dos tratados secretos como também pela renúncia de
todos os acordos ditados pela política imperialista do regime
czarista” [CHICHERIN, p. 3-4]. Com essa concepção, conseguiu
criar acordos com países muçulmanos, em especial com o Afeganistão.
Com isso, ele colocou em prática a máxima de Marx: “Um povo que
oprime outros povos não pode ser livre”. Outro aspecto inédito
das relações exteriores da recém-formada Rússia Soviética era o
apelo para que os trabalhadores dos outros países se mobilizassem
contra a intervenção militar imperialista no novo país soviético.
“[O] movimento revolucionário gradual e crescente continuou avançando nos países da Entente e, por toda a Europa, as classes dominantes estão tomadas pelo medo conforme elas sentem a aproximação da revolução mundial. A imagem maravilhosa do ataque da reação mundial sobre a Rússia Soviética, a luta desesperada da última e sua defesa bem-sucedida inspira as classes trabalhadoras de todos os países. Este ano (1919), nós escrevemos menos notas aos governos, mas mais apelos às massas trabalhadoras. […] A cena da presente batalha entre dois mundo não tem precedentes na imensidade de suas proporções. […] A política externa da Rússia Soviética conforma-se mais e mais à batalha universal entre a revolução e o velho mundo.
[CHICHERIN, p. 35-36]
Durante seu trabalho como
diplomata, Chicherin deparou-se com um grande obstáculo: a homofobia
de Maxim Litvinov, um dos membros do Comissariado para as Relações
Exteriores. Boris Bazhanov, secretário de Stalin de 1923 a 1928,
relata que Chicherin e seu principal deputado, Maxim Litvinov,
constantemente enviavam memorandos secretos ao Comitê Central do
Partido Bolchevique criticando e xingando um ao outro. Litvinov
afirmava que seu adversário era “pederasta, idiota, maníaco e
anormal” [BAZHANOV, 1930 apud KOTKIN, 2014, p. 152]. Além de
invejar seu adversário pelo seu posto e também das divergências
políticas, Litvinov tinha especial aversão porque era homofóbico.
Apesar disso, Maxim Litvinov permaneceu no posto e sucedeu Chicherin
como Comissário para as Relações Exteriores em 1930.
A visita do velho amigo
Ao que tudo indica, as
divergências políticas entre Chicherin e Khuzmin mantiveram-nos
bastante distantes. Mikhail Khuzmin diversas vezes se opôs aos
movimentos revolucionários, apesar de ter apoiado a Revolução de
Outubro quando ela ocorreu.
Apesar
da política bolchevique de não interferência nas questões
sexuais, o clima homofóbico a partir de 1923-24 era crescente. Em
junho de 1926 na “Gazeta Vermelha” (Krasnaya Gazeta), um longo
artigo de Mikhail Padvo retratava a arte de Khuzmin como “burguesa”
por causa das “poses e gestos eróticos” que foram emprestados
das “operetas negras” [MALMSTAD, p. 337]. Sua carreira
praticamente chegou ao fim nesse ano, junto com a política de
liberdade artística que havia sido defendida por Lenin e também por
Trotsky. Tudo isso representa um retrocesso gradual na política
bolchevique que prevalecia no começo da década de 1920 [cf. HEALEY,
1993].
Chicherin não sabia disso. Em
novembro de 1926, chegou em Leningrado e mandou avisar Khuzmin que
queria que ele fosse visitá-lo. “Mieux veut tard que jamais,”
começou dizendo. Eles conversaram sobre “artes, polêmicas,
amizade, talento, diplomacia” e também sobre a fama que Khuzmin
havia adquirido na Alemanha. Chicherin indagou Khuzmin sobre por que
seu amigo estava escrevendo e publicando pouco [p. 340].
Desse
relato, podemos tirar duas conclusões. Como Chicherin sabia sobre a
fama que Khuzmin tinha nos grupos de homossexuais que estavam
florescendo na Alemanha, significa que ele tinha algum contato com
esses grupos, talvez também com o Instituto Científico-Humanitário.
É possível que esse contato inclusive tenha ocorrido antes de 1917,
quando viveu entre a Alemanha, a França e a Inglaterra. A outra
conclusão é que Chicherin acompanhou, em alguma medida, os
trabalhos de Khuzmin. Não vemos aqui um julgamento moral, muito
menos uma repreensão como a que foi feita por Padvo. Muito pelo
contrário, o velho diplomata queria que seu amigo continuasse a
produzir.
Sobre a lenda de que Chicherin nunca aceitou sua homossexualidade
Existem
poucas fontes sobre a homossexualidade desse importante bolchevique.
Há um motivo para isso. Como parte da contrarrevolução stalinista,
todas as discussões artísticas ou científicas sobre a sexualidade
foram proibidas. Livros e textos sobre o assunto foram apreendidos
pela NKVD (órgão que deu origem à KGB) ou queimados na década de
1930 [HEALEY, 2001]. Alguns artigos e rascunhos pessoais de Georgi
Chicherin provavelmente ainda estão detidos pela polícia da Rússia
[HEALEY, 1993, p. 45]. Chicherin também foi apagado da Enciclopédia
da União Soviética e dos arquivos históricos do partido comunista
soviético [MEDVEDEV, p. 202; MEYENDORFF, p. 173].
Devido
à falta de mais evidências sobre a homossexualidade Chicherin,
surgiu uma lenda entre os historiadores de que ele nunca aceitou sua
sexualidade. Entretanto, existe uma única evidência, totalmente
duvidosa, que aponta nesse sentido, e que inclusive entra em
contradição com as evidências já apresentadas aqui. Todos os
textos que fazem essa afirmação baseiam-se, direta ou
indiretamente, em duas notas de rodapé do artigo de Alexander
Meyendorff, primo de Chicherin. Entretanto, essas duas notas foram
adicionadas pelo editor do artigo, Igor Vinogradoff, amigo pessoal de
Meyendorff, e não pelo próprio autor. A primeira afirma que, na
viagem de Chicherin a Berlim em 1904, “ele estava buscando uma cura
para a homossexualidade que perturbava sua mãe e provavelmente
distorcia sua própria personalidade” [MEYENDORFF, p. 175]. A
segunda afirma que o termo “doença” no texto de Meyendorff era
um eufemismo para a “homossexualidade e os sentimentos de culpa
decorrentes dela” [p. 178]. O problema é que nem mesmo Meyendorff
conhecia o pensamento do Chicherin, quanto mais o seu amigo,
Vinogradoff. Por exemplo, em 1903, quando Chicherin apenas defendia o
fim do czarismo e a renovação de valores, seu primo já o considera
um “marxista radical” que já estava longe das visões da mãe
[p. 174].
Como
vimos, é provável que a primeira nota retrate um fato histórico,
não só da homossexualidade de Chicherin, mas também de que ele
tinha trejeitos (a “distorção na personalidade”). Já a segunda
nota parece refletir, no máximo, uma opinião de Meyendorff.
Chicherin foi à Berlim em 1926 e novamente em 1928 para tratamento
de diabetes e polineurite (inflamação e degeneração dos nervos).
Em seus últimos dias, passava por crises de loucura. Faleceu em 1936
de derrame cerebral [cf. POOLE, p. 90]. Esses fatos derrubam a única
e frágil evidência apresentada de que Georgi Chicherin nunca
aceitou sua própria sexualidade.
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